"Cada palavra tem a sua consequência, cada silêncio, também."- Jean-Paul Sartre
Escrever deixou de
ser uma necessidade já há algum tempo. Antes eu tinha necessidade de usar essa
via para expressar meus sentimentos e organizar a imensa bagunça que é a minha
cabeça.
Acontece que com o
tempo essas palavras escritas, salvadoras, essas que se contrapõem à fala, se
tornaram cada vez mais escassas e difíceis, e eu passei a habitar o silêncio.
Com o passar do tempo, eu me tornei cada vez mais falante no meu dia a dia e
fui emudecendo a escrita. Uma fala repleta de pretensões, e uma escrita que foi
se esvaziando de seus sentidos.
Tinha me dado conta
de que eu havia vivido quase uma vida toda dentro daquilo que eu escrevia. E
que quase toda essa vida era apenas um esboço, um ensaio patético para uma obra
maior que eu nunca escrevi, mas que desejava ganhar com urgência ares de
romance realista.
Eu desejei isso.
Saltar dessas páginas frias e viver. Experimentar os beijos dos meus poemas, os
amores das minhas prosas, a liberdade que eu só conhecia dentro de mim, mas que
precisava romper barreiras, sair do casulo. Eu usei durante muito tempo a
escrita como uma forma de me proteger do mundo, da minha incapacidade de vivê-lo
em plenitude, de encarar meus medos e de saborear meus desejos. Talvez, eu não
tenha ido muito longe, talvez esse esforço tenha apenas me afastado do meu
habitat natural, mas foi necessário.
Durante esse longo
período, eu poderia ter me lamentando, ter escrito sobre desilusões e
encantamentos passageiros ou abandonado qualquer traço de subjetividade para
falar de qualquer outro assunto maior que pudesse substituir condignamente os
meus interesses pessoais.
Assunto não me
faltava! O que me faltava era equilíbrio para não usar as palavras de um modo
leviano, para não me vingar através delas. Eu poderia ter excluído esse blog e seguir
em frente, usando as palavras tão somente para pagar o feijão com arroz, ler o
jornal ou travar uma conversa banal com qualquer um que seja.
Tentei algumas vezes.
Tentei também escrever novamente. Mas nada que eu fiz foi realmente bom ou satisfatório
para que eu pudesse retornar.
Hoje tento mais uma
vez, sem a pretensão de escrever algo inovador ou diferente, sem a pretensão de
ser lido. Eu desejo me ler. Desejo ouvir cada palavra e descobrir admirado ou
assustado a pessoa que me tornei. E que cada palavra possa dizer sobre mim o
que no silêncio se perdeu.
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